Descubra o preço
do seu
Plano de Saúde

Descubra o preço do seu Plano de Saúde

A polêmica sobre vacinas e autismo se intensifica

Pesquisas que associam vacinas ao autismo não têm crédito na comunidade científica e movimentos antivacinação acusam a indústria farmacêutica de fraudar resultados. O debate sobre a segurança das vacinas cresce, enquanto que doenças já erradicadas retornam.

Vacinas causam autismo?

Grandes instituições ligadas à saúde nos Estados Unidos garantem que não: o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention), a Organização Mundial de Saúde (World Health Organization), a Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina (National Academies of Sciences, Engineering and Medicine) e a Academia Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics), além de mais dezenas de estudos publicados em prestigiosos periódicos científicos.

A polêmica sobre vacinas e autismo se intensifica

Imagem: Getty

A origem da questão vacinas-autismo

O consenso científico sobre a relação entre vacinas e autismo é amplo e sólido: não existem evidências de conexão. O debate sobre a existência de uma relação causal entre vacinas e autismo cresceu nos anos 90. Nessa época, os diagnósticos de autismo começaram a crescer e os médicos não sabiam porque. Em 1998, o pesquisador britânico Andrew Wakefield publicou um trabalho afirmando que o autismo era provocado pela vacina para sarampo, caxumba e rubéola (MMR). Uma investigação posterior mostrou que a pesquisa era uma fraude, com observações relativas a apenas 12 pacientes, com dados e prontuários alterados.

Em 2004, o Sunday Times mostrou que Wakefield falsificou os dados de sua pesquisa para atender aos interesses dos pais de crianças autistas que desejam processar os laboratórios produtores da vacina, com a finalidade de ganhar milhões em indenização, com auxílio de advogados. Diante do escândalo, 10 dos coautores do artigo retiraram seus nomes da publicação. O respeitado British Medical Journal (BMJ) mostrou posteriormente que Wakefield recebeu 435 mil libras pelo falso estudo e que das 12 crianças incluídas na pesquisa, 5 já apresentavam problemas de desenvolvimento antes de receberem a vacina e 3 nunca tiveram autismo.

Descobriu-se também que Wakefield tinha planos para patentear a sua própria vacina, que substituiria a adotada oficialmente. O resultado foi que o médico foi processado na Inglaterra, julgado e considerado culpado, sob a acusação de fraude e conspiração. Sua licença médica foi cassada e ele perdeu o emprego no instituto em que trabalhava. A revista que havia publicado seu estudo cancelou a publicação e pediu desculpas. Muito embora tenha sido provado que o estudo era falso, a ideia influenciou muita gente, principalmente nos Estados Unidos, onde ganhou corpo um movimento antivacinação.

O médico norte-americano James Jeffrey Bradstreet também se destacou no movimento antivacinação, publicando vários artigos onde relacionou todas as vacinas com o autismo. Segundo ele, o problema estava no mercúrio presente nas vacinas, o que é uma teoria rejeitada pela maioria da comunidade médica e científica mundial. Milhares de pais foram convencidos de que as vacinas, não apenas a MMR, são a causa do autismo. Com o crescimento do número de crianças não vacinadas, doenças que já estavam quase erradicadas estão voltando.

Relacionamento dos pais com os médicos sofre tensão

Pediatras nos Estados Unidos estão enfrentando a oposição persistente à vacinação das crianças. Eles estão cada vez mais tendo que enfrentar a difícil decisão de rejeitar o atendimento de famílias que não aceitam a vacinação, para proteger seus outros pacientes. Existem clínicas que já anunciaram que não vão mais aceitar novos pacientes que não estejam totalmente vacinados.

Os médicos afirmam que eles estão dando este último passo, porque o movimento antivacinação, nos anos recentes, tem contribuído para o resurgimento de doenças que podem ser prevenidas, como sarampo, caxumba e coqueluche. Suas práticas têm sido apoiadas pelas famílias que dizem que vão procurar apenas médicos que exigem que todos os pacientes sejam vacinados. Entretanto, a prática é polêmica e eticamente questionável, porque existe a obrigação dos médicos em atender as crianças que têm um potencial de prejudicar a outros pacientes. A Academia Americana de Pediatria considera que é inaceitável que se recuse famílias que não aceitam a vacinação.

Resultados do movimento antivacina aparecem na saúde da população

É preciso um grande esforço para entender como é possível que existam famílias que decidem deliberadamente não vacinar as crianças, contra doenças que podem ser mortais, além de deixar sequelas, como o sarampo e a caxumba, correndo o risco de perder seus filhos para doenças terríveis, como a varíola. O movimento antivacina está crescendo em todo o mundo, inclusive no Brasil, que já foi um modelo internacional na aplicação da vacinação pública e onde doenças já haviam sido erradicadas.

A cobertura de vacinas que o Brasil fornece às crianças está em queda. Foram publicadas analises que dão conta de que está existindo cada vez mais dificuldade em atingir a meta de vacinar a maioria da população. Exemplos disso são a vacinação da poliomielite e da febre amarela. A poliomielite é a causa da paralisia infantil, que foi erradicada no Brasil, desde 1990, mas que, em 2016, só obteve 84% de adesão.

quando a meta é conseguir 95%, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). A cobertura da vacina da febre amarela, depois do surto verificado entre 2017 e 2018, chegou a apenas 50% no estado de São Paulo, segundo a Secretaria da Saúde do estado. Além disso, segundo o Ministério da Saúde, a vacina do sarampo atinge hoje apenas 83% das crianças menores de um ano. Na segunda dose, o índice cai para 68%.

Doenças que não eram mais vistas há muito tempo levaram os pais a acreditar que elas não existiam mais. A necessidade agora está sendo de levar informação aos pais e profissionais de saúde sobre os riscos envolvidos na decisão de não vacinar. A representante do CDC (Centres for Disease Control and Protection) americano afirma que o sarampo era a principal causa de morte de crianças nos Estados Unidos, no início do século passado. Segundo ela, enquanto que em outras áreas do mundo, onde o sarampo e outras doenças ainda matam muitas crianças, por dificuldades de acesso à vacina, nos Estados Unidos existem pessoas dizendo que não querem vacinas.

Onde a rejeição às vacinas cresceu

Foi observado que teorias conspiratórias contra as vacinas tendem a ser mais fortes nas comunidades que suspeitam da medicina moderna, como os conservadores fundamentalistas ou os liberais que pregam a volta à natureza. A candidata do Partido Verde nas últimas eleições americanas para a presidência, Jill Stein, fez comentários ambíguos sobre as vacinas, além de Donald Trump ter afirmado que vacinas causam autismo em um debate que foi transmitido pela televisão.

Atualmente, existem documentários sendo produzidos e distribuídos nos Estados Unidos para combater o uso das vacinas, colocando em dúvida sua segurança e eficácia. São séries com vários episódios, em que dezenas de profissionais de saúde tentam provar que não se deve vacinar as crianças.

Uma das iniciativas para desacreditar as vacinas parte um grupo que atualmente vende um pacote de vídeos, áudios e livros, em que 54 profissionais, chamados de “especialistas” apregoam os problemas com as vacinas. O pacote varia de U$ 150 a U$ 250, conforme o número de itens incluídos.

Outro documentário foi elaborado pelo National Vaccine Information Center (Centro Nacional de Informações sobre Vacinas) e o Children`s Medical Safety Research Institute (Instituto de Pesquisas para Segurança Médica das Crianças). O pacote é vendido, com o objetivo de arrecadar dinheiro para o desenvolvimento de vacinas limpas e seguras. Os autores afirmam que esse objetivo não será obtido através das pesquisas convencionais ou patrocinadas pela grande indústria farmacêutica, mas por cientistas que estão se arriscando a pensar de forma independente.

Portais na internet dedicados à tratamentos de saúde naturais tentam questionar a segurança das vacinas e colocar dúvidas na população quanto ao sistema de saúde e aos interesses das grandes corporações, principalmente a indústria farmacêutica. Um documentário, “Vaccines Revealed” pretende demonstrar a verdade sobre as vacinas, através de palestras com membros de um time de “autoridades mundiais” sobre o assunto, cuja missão é “prevenir os danos e mortes provocados por vacinas” e promover o direito de todas as pessoas de serem informadas por decisões independentes sobre vacinação, para elas e suas famílias.

Teorias conspiratórias sobre a vacina crescem

Enquanto o debate continua, surgem especulações sobre a morte de um funcionário do CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças), que estava desaparecido por quase dois meses e cujo corpo foi encontrado no rio Chattohoochee, perto de Atlanta (USA). A suspeitas por parte da mídia naturalista de que ele foi assassinado para impor silêncio sobre as práticas criminosas e fraudes científicas dentro do CDC, a organização que apoia a vacinação.

Mais especificamente, a teoria conspiratória é de que existem registros de que as vacinas não somente causam autismo, mas que ele é significantemente maior nos bebês negros, comparativamente aos bebês brancos. Esse dado teria sido escondido depois que um pesquisador, William Thompson, teria confessado publicamente que tomou parte em uma operação para encobrir a informação, depoimento esse que sumiu de qualquer registro, na imprensa ou no Youtube.

Regina Di Ciommo

Mestre e Doutora em Sociologia pela UNESP, pesquisadora na área de Ecologia Humana e Antropologia, Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, foi professora em cursos superiores de Sociologia e Direito, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.