A volta de doenças já erradicadas está se tornando uma ameaça real. Os dados apontam que as vacinas não estão atingindo a todas as crianças com menos de um ano e já há mortes por sarampo
Vacinas como a quádrupla viral, para proteção contra sarampo, caxumba, rubéola, catapora e varicela, tiveram queda de 8% no número de crianças vacinadas no Brasil. Em 2017, o índice de crianças vacinadas caiu para o número mais baixo nos últimos 16 anos.
As notícias de 2018 dão margem preocupação. A vacinação contra a poliomielite, por exemplo, só alcançou 77% das crianças, numa queda 7,5% em relação a 2016. Em relação a 2015 a redução foi de 21%, ano em que a vacinação atingia 80% das crianças, nas campanhas realizadas até aquele ano.
Imagem: Getty
Mortes por sarampo já começam acontecer
No dia 5 de julho foi noticiada a morte de um bebê de sete meses por sarampo, em Manaus, confirmada por exames laboratoriais. Os dados de histórico médico da criança confirmaram de que o menino não foi vacinado.
Os sintomas da vítima foram tosse, coriza, febre e exantema ou erupções cutâneas vermelhas. O bebê foi internado no Hospital Infantil João Lúcio e morreu três dias depois. Outra morte é de uma menina de nove meses, que morreu no dia 23 de junho. O caso está sendo investigado, porque a menina também não foi vacinada e a causa da morte está sendo com informação de familiares.
O prefeito de Manaus decretou situação de emergência, por 180 dias, depois que foram confirmados 271 casos e mais 1841 estão sob suspeita.
Casos de sarampo entre refugiados venezuelanos em Roraima
No estado de Roraima, fronteira com a Venezuela, foram registradas duas mortes por sarampo, em fevereiro e março de 2018. Os casos foram de uma criança venezuelana indígena, com 3 anos de idade e um bebê brasileiro de três meses. Outra morte está sob investigação.
Em Roraima existem muitos venezuelanos imigrantes. No estado foram registrados 200 casos confirmados de sarampo. Dentre eles, 133 são de venezuelanos (66,5%), 65 são de brasileiros (32,5%), um caso da Argentina e um caso da Guiana. Entre os venezuelanos, a maior parte dos casos ocorreu entre crianças de 1 a 9 anos de idade. Já entre os brasileiros, as vítimas estão entre crianças de 6 meses a 4 anos de idade, o que reflete que as faixas etárias mais altas foram protegidas por vacinações que ocorreram em anos anteriores.
A Organização Mundial da Saúde – OMS alertou para a possibilidade de expansão do surto de sarampo na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, devido ao grave colapso nos serviços de saúde em Caracas. No mês de junho, a OMS publicou nova nota de alerta, reforçando o fato de que o sarampo está sendo levado em parte pelo fluxo de migrantes venezuelanos e também pela imunização deficiente no lado brasileiro.
A doença havia sido eliminada em 2016 na América Latina. Em 2018, há um total de 11 países afetados pelo sarampo, dentre os quais o Brasil. Em 2017, somente quatro eram afetados. Na Venezuela, já foram identificados mais de mil casos.
Ausência das doenças deu falsa sensação de segurança
Infelizmente, ainda existe a crença de que a vacina é curativa, que deve ser tomada depois que aparece a imediata ameaça da doença. Foi o que aconteceu com a vacina da Hepatite A, que por conta de um surto em 2017 teve uma leve alta na vacinação. No entanto, o cuidado tem que ser de prevenção, não se pode deixar a doença aparecer.
O Plano Nacional de Imunização, PNI, foi criado em 1973 e é reconhecido internacionalmente pela sua eficiência, organizando o calendário de vacinação, promovendo a erradicação de doenças que podem ser prevenidas e eliminadas através da imunização. Foi o que aconteceu com a poliomielite e a rubéola, que foram erradicados no Brasil.
Os jovens atualmente têm saúde e não foram afetados por essas doenças na infância exatamente pelas ações dos programas oficiais de vacinação. Depois de uma geração surgiu agora a sensação de que as vacinas são dispensáveis, porque as doenças não se manifestaram, o que é uma crença perigosa, porque é necessário manter a prevenção. O resultado dessa ilusão é que doenças como o sarampo, que estava controlado, voltaram a surgir no Amazonas, Roraima e Rio Grande do Sul.
É alto o risco de retorno da poliomielite no Nordeste
O Ministério da Saúde admitiu o risco de retorno da poliomielite em 312 cidades brasileiras. Segundo a coordenadora do PNI, Carla Domingues, a situação é gravíssima. A constatação foi discutida em reunião com secretários estaduais e municipais de saúde, no mês de junho. A situação é grave em alguns estados brasileiros, como Bahia e Maranhão.
Com esse índice, as cidades têm as condições para que a poliomielite volte a ser transmitida, o que seria um desastre para o sistema de saúde como um todo. O último caso da doença no Brasil ocorreu em 1990, sendo que quatro anos depois a poliomielite foi declarada erradicada nas Américas, pela OMS – Organização Mundial de Saúde.
A cobertura da vacina contra a pólio, para ser eficaz, deve ser superior a 95%. Um total de 15% dos municípios baianos imunizaram menos do que 50% das crianças. No Maranhão, a imunização chegou somente a 14,29%. São 22 os estados brasileiros onde a vacinação não chegou à cobertura considerada ideal. Em 2017, um total de 800 mil crianças não haviam seguido o esquema de vacinação com três doses.
O Ministério Público Federal pediu ao governo informações sobre a situação, solicitando informações sobre os motivos do problema e medidas existentes para reverter o quadro. Foi também dado um prazo para respostas, em razão da urgência e gravidade do problema.
Ganhos com a vacinação são para todos
Os problemas que cercam a falta de vacinação vêm sendo discutidos pelo Ministério da Saúde, que reconhece que as soluções dependem de serem avaliados os entraves financeiros que vêm sendo praticados pela política do atual governo, que impôs a limitação de recursos para a saúde.
Os ganhos que se conseguem com as vacinas vão além da proteção do indivíduo, mas beneficiam a população como um todo. Há um impacto no trabalho dos país, que precisam acompanhar a criança, uma menor taxa de hospitalização e redução das sequelas, que no caso do sarampo pode ser a surdez e problemas neurológicos.
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