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O debate entre defensores do parto normal e cesariana

A polêmica que seguiu levou às ruas, em várias cidades do Brasil, mulheres que protestaram com o lema Meu Corpo, Minhas Regras – o direito de decidir sobre o próprio parto.

Segundo alguns especialistas, as grávidas no Brasil vivem uma situação em que são envolvidas pela chamada “a indústria da cesárea brasileira”. A dominância do parto através de cesariana faz do Brasil o recordista mundial desse tipo de parto no mundo.

Na rede privada, onde o atendimento é particular ou através dos planos de saúde, o índice é maior, de 83% que em algumas maternidades chega a 90%. A intervenção, que antigamente era um recurso para salvar vidas, passou a ser regra. Faltam estudos, no entanto, que demonstrem o quanto desse percentual se refere a cesáreas realizadas por questões fisiológicas da mãe e o quanto pode ser atribuído a uma escolha anterior, feita em conjunto pelo médico e a paciente.

Muito noticiado pela mídia, chamou a atenção o caso de Adelir Lemos de Goes, gaúcha de Torres (RS) que foi obrigada a ir para o hospital fazer uma cesariana através de uma liminar da Justiça, a pedido de sua obstetra, que alegou que o parto normal colocaria em risco a vida do seu bebê.

A regulamentação do sistema de saúde do país fez com que crescesse, desde a década de 80, a frequência de partos cesáreos, em número muito maior que os partos normais. Além disso, os profissionais obstetras, muitas vezes por questões financeiras, mas também devido a problemas na infraestrutura dos hospitais, acabaram perdendo o hábito de fazer partos normais, o que é agravado pela falta de informação sobre o assunto.

O número de cirurgias cesarianas aumentou em todo o mundo devido à crença de que há um risco maior para a mãe e o bebê no parto normal.

O debate entre defensores do parto normal e cesariana
Imagem: Getty

Consequência da desinformação

A Fiocruz, no Rio de Janeiro, realizou pesquisa em que acompanhou 437 mães que deram à luz, no sistema de saúde suplementar. No início da gravidez 70% delas não pensavam em fazer uma cesárea. No entanto, 90% tiveram seus filhos através de uma cesariana. Dentre estas, 92% teve a cirurgia antes do trabalho de parto, ou seja, antes de qualquer complicação que pudesse caracterizar uma emergência.

Não há, entretanto, nenhuma investigação ou trabalhos científicos que comprovem o percentual de cesáreas que foram por escolha do médico em função do quadro de risco apresentado na gravidez.

O estudo da Fiocruz conclui que em algum momento da gestação houve um fator que determinasse a escolha pela cesariana e que isso se deve à pouca informação recebida pelas mulheres, o que é questionável.

Uma das informações que as grávidas precisam saber é que os bebês que nascem de parto cesáreo podem ser prematuros se a cirurgia for realizada com menos de 37 semanas de gestação, o que traz consequências para a sua saúde. Esse é um fato que muitas futuras mães ignoram. Um erro de cálculo, por exemplo, pode levar a essa situação, ao programar a cesárea.

O desconhecimento a respeito do que acontece durante o parto e sobre o nível de dor que poderá suportar pode levar a mãe a decidir pela cesárea.

O Brasil é o país que mais realiza partos feitos por cesarianas no mundo – num total de 52% – o índice que a OMS recomenda é de 15%.

As razões financeiras

Na década de 70, a cesariana começou a ser indicada pelos médicos como a cirurgia que possibilitava a laqueadura, ou esterilização definitiva. Como meio para conseguir a laqueadura dentro do sistema público de saúde, a saída para as mulheres era optar pela cesárea depois de terem decidido que não teriam mais filhos e aquela seria sua última gravidez. Na mesma época, o então INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) determinou que um médico somente receberia seus honorários se participasse integralmente do parto. Anteriormente isso poderia ser feito pela parteira ou enfermeira especializada e o médico aparecia somente se houvesse algum problema.

Com a mudança de regras, os médicos foram obrigados a permanecer mais tempo nas salas de parto. A partir de então os índices de frequência da cesárea começaram a subir. Ao mesmo tempo a ANS – Agência Nacional de Saúde – que regulamenta os planos de saúde no Brasil, passou a remunerar mais aos médicos no caso de cirurgias cesarianas, desvalorizando o parto normal. Que obriga os médicos a permanecerem muito mais tempo no atendimento às suas pacientes e a receberem menos por isso. Dessa forma reforçou-se a tendência de defenderem o parto cesáreo e o indicarem às grávidas.

Nos planos de saúde o médico ganha um pouco a mais pelo parto normal. Mas na prática a remuneração se torna desvantajosa, porque uma cesárea dura em média 3 horas, enquanto que o parto normal pode durar 12 horas ou mais, para praticamente a mesma remuneração.

A cesariana pode ser marcada com antecedência, o que favorece a agenda do médico, eliminando a incerteza do parto normal com relação a dia e hora, que obriga muitas vezes ao cancelamento de compromissos, consultas ou viagens.

Necessidade de anestesia é subestimada

Outros profissionais que trabalham com parto tiveram suas profissões desvalorizadas depois das mudanças no INPS nas décadas de 70 e 80. As parteiras, obstetrizes e enfermeiras especializadas foram praticamente expulsas das salas de parto e as maternidades passaram a realizar cirurgias cesarianas com os ginecologistas.

O resultado é que em muitos hospitais não há mais à disposição das grávidas uma equipe treinada para auxiliar no parto normal e garantir que ele seja humanizado.

Outra condição grave é que não há profissionais de plantão 24 horas por dia, principalmente anestesistas, que não ficam nos hospitais e são chamados nos casos de emergência. Assim sendo, a mãe que opta pelo parto normal não tem nenhuma garantia de que vai poder contar com um anestesista se for necessário, o que agrava ainda mais a incerteza e o medo. Ela corre o risco de chegar a um hospital ou maternidade e não encontrar uma equipe especializada de plantão e nem anestesista, o que é permitido pela ANS e os planos de saúde. Diante dessa realidade, as mulheres e os médicos preferem marcar uma cesárea com antecedência.

A necessidade de anestesia muitas vezes é subestimada pelos hospitais e pelos planos de saúde, no entanto ela é necessária quando as dores são insuportáveis. Somente durante uma cesariana a mulher tem certeza de que receberá anestesia e não sofrerá, mesmo sabendo que o pós-operatório vai trazer alguma dor por alguns dias.

Diante da falta de leitos cresce o número de cesáreas

O número de leitos hospitalares em obstetrícia foi reduzido. Para enfrentar a incerteza de poder contar com uma vaga em hospital quando entrar em trabalho de parto, os médicos e suas pacientes preferem não correr o risco e marcam uma cesárea.

Enquanto que o plano de saúde aprova o credenciamento de hospitais em que haja centro obstétrico, os hospitais preferem colocar equipamentos de alta tecnologia no espaço físico, pois seu uso vai render muito mais para o hospital.

Os médicos preferem as cesáreas e influenciam as pacientes

Nas faculdades de medicina os novos médicos tem recebido mais treinamento em cesáreas. O parto normal, por não ser corriqueiro, recebe menos atenção e o estudante passa a não dominar todas as técnicas.

A responsabilização criminal que atinge o médico por uma fatalidade que acontece em uma situação de risco no parto normal também faz com que os médicos criem receio dessa responsabilidade e prefiram a cesárea por oferecer maior controle sobre situações inesperadas. E a palavra do médico é o que norteia as grávidas, bem como suas famílias, em relação à escolha do tipo de parto.

Ultimamente vem surgindo movimentos pelo parto humanizado, respeitando a vontade da mãe, que estão aumentando o debate entre área, que discutem a possibilidade de diminuir o número de cesáreas. A meta é de reduzir o seu número em 5% ao ano. Em países europeus o índice de cesáreas é bem menor do que no Brasil, mas faltam estudos sobre a condição em que isso ocorre. A mulher precisa informar-se e decidir o que é melhor para ela, desde a gestação.

Regina Di Ciommo

Mestre e Doutora em Sociologia pela UNESP, pesquisadora na área de Ecologia Humana e Antropologia, Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, foi professora em cursos superiores de Sociologia e Direito, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

Um Comentário

Marcia Parente

Muito bom dia!

Gostaria de dizer que se fosse ter um filho com certeza seria por cesárea. Tenho pavor da dor do parto normal. Muitas vezes os médicos fazem um corte no períneo e utilizam fórceps. Tenho muito medo desses procedimentos.

Um grande abraço e obrigada por essa postagem esclarecedora!

Márcia.

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