Cientistas buscam medicamentos para um tratamento simples e que facilite a vida de quem tem diabetes tipo 2. A indicação do remédio cada vez mais irá respeitar as particularidades de cada paciente.
A tendência dos novos tratamentos para o diabete é de descobrir tratamentos cada vez mais específicos para o metabolismo e DNA do paciente, para que sejam mais efetivos e certeiros. No entanto, a medicina na atualidade ainda não é personalizada, com indicações de medicamentos em doses semelhantes para pessoas de idade, sexo e tipologia diferente.
O diabetes, segundo dados de 2013, afeta quase 371 milhões de pessoas em todo o mundo. O Brasil é o quarto país em número de casos, com aproximadamente 13,4 milhões de homens e mulheres que sofrem do problema. Portanto, sempre estão sendo procuradas pelos cientistas novas possibilidades de tratamento, que ofereçam maior eficácia e comodidade ao paciente, ao mesmo tempo em que controlem os níveis de açúcar no sangue. São alternativas que podem tornar a vida dos diabéticos mais fácil e simplificada. Para os pacientes, um novo mundo pode estar se abrindo com essas novidades.

Imagem: Getty
Insulina biossimilar
A insulina biossimilar é uma insulina com características análoga à fisiológica, de longa duração. O primeiro produto lançado no Brasil foi registrado na Anvisa, em maio de 2017, com o nome de Basaglar. Ela também é administrada por injeção subcutânea e atua como tratamento para diabetes tipo 1 e 2. A insulina biossimilar é cópia do medicamento biológico de referência, sem ser um genérico, mas não é idêntica ao que serve de comparação, o Lantus (insulina glargina).
Insulinas orais
A maioria absoluta dos diabéticos e diabéticas se queixa das picadas de agulha para as injeções subcutâneas ou dos aparelhos que medem a glicemia. Esse fato causa ao paciente um grande desconforto. Não há dúvida que uma insulina oral, que não seja injetável é uma ideia que seria muito bem-vinda. Para isso, ela precisa ser sintetizada em laboratório e realmente funcionar. Já existiu no mercado uma insulina que era administrada por inalação, mas rapidamente foi retirada das farmácias, por não eliminar injeções durante o dia.
Diversos estudos estão em andamento, para que em futuro próximo seja lançada a insulina via oral. O desafio para a medicina é que as tentativas de sintetizar a insulina esbarram em um obstáculo, de que quando ingerida em formato de comprimido, ela é digerida pelas enzimas digestivas do estômago e intestino, e acaba sendo destruída, sem que seja eficiente. Mas um novo tipo de comprimido está sendo testado, e que parece estar demonstrando eficiência e segurança. Apesar de ainda estar em fase de testes, promete essa novidade em breve.
Células-tronco
As células-tronco tem o potencial de diferenciar e ajustar a qualquer outra célula do nosso organismo. Por isso estão sendo usadas para o tratamento de pacientes diabéticos, com excelentes resultados. Por muitos anos, os cientistas procuram transformar células-troco em células do pâncreas, para que assim elas possam produzir a insulina que o paciente precisa diariamente.
As pesquisas testam a injeção das células-tronco no pâncreas, sem que haja rejeição do organismo. Para isso, é preciso controlar o sistema imunológico. O diabetes tipo 1, por exemplo, ocorre quando o organismo não reconhece as células que produzem insulina e as destrói. Pesquisadores da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, realizam pesquisas nesse campo, com resultados auspiciosos.
Um dos coordenadores das pesquisas, Dr. Eduardo Couri, tem publicado os resultados desse trabalho. Por outro lado, outra linha de estudos é a pesquisa nuclear de células somáticas, pelo grupo do Dr. Yourg Gie Chung, uma colaboração entre a Universidade de Seul e a Universidade de Los Angeles. A pesquisa busca produzir de forma segura em laboratório as células Beta pancreáticas, que produzem insulina, podendo então regenerar o pâncreas.
Medicamentos com atuação nos rins
Estão no mercado medicamentos lançados recentemente, os inibidores do SLGT2. Eles atuam sobre um canal transportador que, no rim, reabsorve a glicose que foi filtrada e que iria para a urina. Os medicamentos novos agem para bloquear essa função do canal e aumentar a excreção da glicose pela urina, baixando os níveis de açúcar no sangue até o nível considerado normal. Os medicamentos são a
dapagliflozina, canagliflozina e empagliflozina, sendo que a dapagliflozina já está disponível no Brasil e a canagliflozina deverá chegar nos próximos meses.
Injeções inteligentes de insulina
As chamadas bombas de insulina já estão no mercado há vários anos, mas sempre apresentam inovações, no sentido de se chegar a dispositivos menores e mais leves ou com softwares potentes e com capacidade de gerenciar a quantidade correta de insulina no sangue. Uma nova bomba de insulina é a Medtronic MiniMed 530G, também conhecida como um avanço na direção de um pâncreas artificial. O seu software calcula de forma precisa a quantidade de insulina a ser injetada, analisando a glicose sanguínea para fazer esse cálculo. Ela pode receber informações do sistema eletrônico chamado de CGMS (sigla em inglês para sistema de monitoramento contínuo de glicose), que é um sensor inserido no tecido subcutâneo do paciente, que envia dados para a bomba de insulina, em tempo real, possibilitando o cálculo da quantidade de insulina necessária na infusão.
Vacinas
Uma vacina com capacidade para controlar o sistema imunológica e, dessa forma, evitar que o pâncreas seja atacado e sejam destruídas as células beta, está sendo desenvolvida pela Universidade de Stanford. Essa vacina terá benefícios diretos para os pacientes que sofrem com o diabetes tipo 1. Os dados do estudo foram publicados na revista Science Translational Medicine, em 2013, mostrando que os pacientes que receberam a vacina mostraram menor destruição de células beta do pâncreas, em comparação com os que não receberam. A pesquisa deve ser ampliada para grupos maiores de pacientes, que deverão confirmar os bons resultados.
Tratamento individualizado e personalizado
Quando se trata de indicar um exercício físico, por exemplo, temos noção de que o que é bom pra um indivíduo não é tão bom para outro. Quando o médico indica uma dieta para um membro de uma família, não pode ter certeza de que a mesma dieta será adequada para todos os membros dessa família. Mas já é possível notar que a medicina individualizada funciona melhor no tratamento de alguns tipos de câncer e também transtornos depressivos. O mesmo indica que vai acontecer com as pesquisas sobre o diabetes.
Na Eslováquia e República Tcheca, por exemplo, pesquisadores avaliaram recentemente que uma mudança específica no código genético de indivíduos com diabetes tipo 2 leva a respostas diferentes para os mesmos remédios utilizados. Foram feitos testes para duas substâncias antidiabéticas mais prescritas normalmente, a vildagliptina e a sitagliptina.
O estudo que foi realizado entre 137 pacientes, que usavam essas duas substâncias, observou que, nas respostas aos medicamentos, uma pequena mudança genética, sutil, que não pode sequer ser chamada de mutação, reduziu o efeito do medicamento em aproximadamente 50%.
Além desse estudo, cientistas britânicos avaliaram se a resistência á insulina, isto é, quando esse hormônio não consegue atuar no metabolismo da glicose nas células, também é um fator que interfere na reação aos medicamentos. A conclusão do estudo concluiu que pacientes com maior resistência à insulina tem a pior resposta a esse tratamento.
Se o perfil metabólico e até genético dos pacientes interferem na efetividade dos remédios, provavelmente será possível indicar o medicamento específico para tratar o diabetes tipo 2, é a conclusão dos especialistas.
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