Quando se fala em produtos domésticos que devem ser mantidos fora do alcance de crianças pequenas, geralmente pensamos em medicamentos e produtos de limpeza. Mas os cosméticos também são perigosos!
Um estudo publicado na revista americana Clinical Pediatrics mostra quantas lesões em crianças são devidas a cosméticos.
Os pesquisadores usaram o Sistema Nacional de Vigilância de Lesões para examinar dados sobre crianças menores de 5 anos que foram tratadas nos departamentos de emergência dos EUA por lesões relacionadas a cosméticos entre 2002 e 2016.

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Eles descobriram que, nesse período de tempo, quase 65 mil crianças foram ao pronto-socorro devido a uma lesão relacionada a cosméticos. Isso é um pouco mais de 4.000 a cada ano.
Cerca de 60% das crianças feridas tinham menos de 2 anos e 40% tinham idades entre 2 e 4 anos.
A grande maioria sofreu ferimentos leves, mas 6,4% (cerca de 1 em 15) precisaram ser hospitalizadas.
Não é de surpreender que crianças com menos de dois anos tenham maior probabilidade de serem hospitalizadas. Não houve caso fatal.
Quais cosméticos são frequentemente causa de lesões
Ao olhar para as lesões, os pesquisadores descobriram:
- 28% eram de produtos para cuidar das unhas;
- 27% de produtos para cuidados com o cabelo (incluindo tintura de cabelo ou produtos químicos; usados para alisamento ou ondas permanentes);
- 25% de produtos de cuidados da pele (incluindo protetor solar);
- 13% eram de fragrâncias ou perfumes;
- Quase todos os acidentes com lesões (99%) ocorreram em casa;
- Os ferimentos foram na maioria das vezes envenenamentos ou queimaduras químicas.

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Aqui estão os produtos que foram os maiores infratores:
- removedor de esmalte (contém acetona, que pode ser venenosa);
- fragrância ou perfume (a causa mais comum de lesões oculares);
- soluções relaxantes capilares e ondas permanentes (a causa mais comum de hospitalização).
Os autores apontam que os cosméticos são muitas vezes “coloridos, visualmente atraentes, fáceis de abrir e usar”.
Eles também costumam cheirar bem, até mesmo como comida. Obviamente, com crianças curiosas e pré-escolares, esta é uma receita para o desastre.
Acrescente isso ao fato de que as crianças veem seus pais fazendo uso dos produtos o tempo todo e crianças adoram imitar o que seus pais fazem.
Como os pais e responsáveis podem evitar lesões por cosméticos?
Então, o que os pais e responsáveis podem fazer? A Dra. Claire McCarthy, da Faculdade de Medicina de Harvard aconselha:
- Mantenha os produtos cosméticos fora do alcance das crianças. Esta é a coisa mais simples e mais importante a fazer. Pense neles da mesma maneira que você pensaria em medicamentos ou fluidos de limpeza, e mantenha-os bem no alto ou guardados em um lugar seguro;
- Faça compras conscientes. Compre apenas os produtos cosméticos que você realmente precisa e use. Se possível, evite comprar produtos que possam ser particularmente atraentes e interessantes para crianças pequenas ou que se pareçam com comida, como existem muitos;
- Jogue fora todos os produtos cosméticos que você não está usando. Mantenha seu estoque o mais enxuto possível;
- Tenha o número de telefone de um serviço de atendimento médico. Tenha o produto em mãos quando você quando ligar;
- Se seu filho aplicar qualquer coisa nos olhos, lave imediatamente com muita água fria enquanto estiver pedindo ajuda.

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Maquiagem na infância
A maquiagem quando usada pelos adultos disfarça imperfeições e realça a beleza.
Mas em crianças os cosméticos podem provocar problemas de saúde.
Especialistas estão desaconselhando o uso de maquiagem na infância.
O problema é que batons, sombras, bases de maquiagem, quanto mais cedo entram em contato com a pele, maior a chance de provocarem alergias.
O uso somente é realmente seguro depois dos 12 anos.
A dermatologista Cláudia Márcia Resende Silva, presidente do Comitê de Dermatologia Pediátrica da Sociedade Mineira de Pediatria, afirmou que, apesar de passarem por testes, os produtos de maquiagem, mesmo aqueles que são apresentados como sendo para uso infantil ou como sendo hipoalergênicos, não representam risco zero para dermatites de contato.
A médica explica que, o sistema imunológico começa a ser estimulado aos poucos, até chegar a produzir uma dermatite.
O efeito pode não ser imediato, mas vai se manifestar ao longo da vida.
A reação é semelhante a um copo que se enche embaixo de uma torneira que apenas pinga, em algum momento esse copo vai transbordar, diz ela.

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Somente crianças com mais de 3 anos podem entrar em contato com maquiagem infantil.
Os esmaltes de unha somente podem ser utilizados depois dos 5 anos.
Essa regra também vale para o local de aplicação da maquiagem, como por exemplo, o batom se destina aos lábios, não deve ser aplicado nas maçãs do rosto.
Não é qualquer produto também que pode ser aplicado nos lábios.
A Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária recomenda que exista um rótulo nos produtos, com as indicações sobre faixa etária e essas devem ser rigorosamente seguidas.
O que são produtos cosméticos só para crianças
A Dra. Ana Mósca, Diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia, alerta para as características dos produtos classificados como infantis.
São de baixo poder de fixação, para serem facilmente retirados com água, sem necessidade do uso de removedores.
As fórmulas podem conter aromas e substâncias para conferir sabor, mas precisam ser seguras no caso de que haja ingestão acidental.
De acordo com a dermatologista, a alergia mais comum é a dermatite de contato.
Ela não aparece imediatamente, na primeira vez em que a pele recebe o produto.
O problema passa a surgir quando a situação se repete.
Depois de instalada a dermatite, a cada nova aplicação os sintomas voltam e frequentemente se manifestam com cada vez mais gravidade.
As alergias de pele não conseguem ser explicadas de forma simples, elas tem um ciclo de desenvolvimento complexo, nem sempre previsível.
O importante é saber que existe a possibilidade de sensibilidade cruzada, isto é, o organismo pode desenvolver resistência a um componente similar ao que vinha sendo usado normalmente.

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Os testes com produtos infantis devem incluir a avaliação do potencial tóxico de todos os seus ingredientes, e deve ser comprovada a ausência de sensibilização e irritabilidade da pele.
O uso de maquiagem infantil deve ser sempre supervisionado por um adulto.
A dermatologista pediátrica Cláudia Marcia Resende Silva esclarece que a denominação “cosmético” não deve ser utilizada para significar maquiagem, da mesma forma não devem ser assim classificados os “produtos de higiene pessoal”.
Isto porque os cosméticos também incluem xampus, condicionadores, sabonetes e desodorantes. Apesar de incluir itens como sombras e batons.
Em alguns casos específicos, um especialista pode indicar uma fórmula para adultos no uso para crianças.
No caso de desodorantes infantis, a Anvisa proíbe que contenham agentes de regulação de fluxo do suor, do tipo antitranspirante.
Conforme a legislação esses cosméticos somente podem ser usados por crianças com mais de 8 anos, sempre sob supervisão de um adulto e as embalagens não podem ser em aerossol.
Uma resolução da Anvisa que trata do assunto entrou em vigor em abril de 2015, após consulta pública.
Nesse documento foram estabelecidos critérios para a formulação, segurança e rotulagem que são exigidos para o registro dos produtos infantis.
Foi permitido o uso de ingredientes com sabor amargo, que evitam a ingestão.
Vale também o aviso de que produtos de maquiagem fabricados para bonecas nunca devem ser usados por crianças, pois não são submetidos a testes farmacológicos, podendo conter substâncias tóxicas.
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