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O que aconteceu com o mosquito “Aedes aegypti”?

A avaliação das três doenças transmitidas pelo Aedes aegypti mostra uma redução média de 60%, apesar da dengue ainda vitimar muitas pessoas. O que será que aconteceu?

Casos de dengue, Zika e chikungunya até agosto – 2017 e 2018

Doenças 2017 – 1º. Semestre 2018 – 1º. semestre
Dengue 204.528 193.898
Chikungunya 176481 68.835
Zika 15.636 6.685

Fonte: Ministério da Saúde.

Embora uma significativa redução nos casos de doenças transmitidas pelo Aedes tenha sido registrada, a dengue ainda vitimou 193.898 pessoas no primeiro semestre de 2018, com 117 vítimas fatais.
Imagem: Mosquito Aedes aegypti

O Ministério da Saúde informou no final de agosto deste ano que houve uma redução expressiva nos casos de zika, em cinquenta e sete por cento, chikungunya, em sessenta por cento e na dengue, em cinco por cento, em comparação a 2017. Essas três doenças, até o fim do primeiro semestre de 2018 somavam 269 casos que estão sendo investigados e 117 mortes constatadas.

O mosquito Aedes aegypti é o vetor que transmite os vírus de três doenças, Zika, dengue e chikungunya. A dengue é a causa da maior parte dessas doenças no Brasil, sendo a responsável por 78% das mortes. A Zika, além de ser transmitida pelo mosquito, também é passada de mãe para filho na gravidez, quando os bebês nascem com microcefalia. A febre amarela também é uma “doença do Aedes”, entretanto, somente no tipo urbano, o que não acontece no Brasil desde 1942. O surto que aconteceu em 2017 e início de 2018 foi de febre amarela silvestre, que é transmitida pelos mosquitos Haemagogus ou Sabethes.

O que terá acontecido com o mosquito?

O que aconteceu com o mosquito “Aedes aegypti”?

Imagem: Getty

O que terá acontecido com o mosquito? Por que as doenças do Aedes diminuíram?

Os laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz realizam pesquisas, desenvolvimento e inovação, gerando conhecimento sobre transmissão, tratamento, controle e prevenção da dengue, febre amarela e outras doenças. É uma das mais prestigiadas instituições científicas brasileiras.

Sua representante, Dra. Denise Valle, esclareceu em detalhes para que possamos entender porque as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti estão diminuindo.

A Dra. Denise Valle explica que redução das doenças não são resultado apenas de ações de combate ao mosquito. Provavelmente ele ainda deve estar voando por aí. Uma das razões é porque a população que já foi infectada desenvolveu defesas ou imunidade. Segundo a pesquisadora, as crises de dengue, por exemplo, são cíclicas. Existe uma ocorrência e passamos um ou dois anos sem termos outra. Mas existe outro fator, houve a diminuição das chuvas no Brasil, em comparação com anos anteriores. Com menos chuvas, há menos pontos de acúmulo de água, que são os locais de reprodução dos mosquitos. Portanto, houve também uma redução na população dos mosquitos.

A chikungunya, por outro lado, continua crescendo nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte.

O medo da Zika melhorou a prevenção contra o mosquito

A Dra. Valle avalia que a Zika serviu como sinal de alarme de emergência contra o Aedes aegypti. Com as consequências visíveis e graves sobre as mulheres grávidas e seus bebês com microcefalia, a população e o poder público levaram um choque de realidade. Se nos últimos 30 anos o Brasil vem assistindo passivamente a epidemias de dengue diversas, com a sociedade acostumada a ouvir falar da doença, sem realmente nunca ter se mobilizado contra ela, na epidemia de Zica as pessoas saíram de sua zona de conforto, diante de uma ameaça muito mais assustadora do que a dengue.

Ficou então claro que o controle doméstico da reprodução do mosquito é da maior importância para todos e o público reagiu fortemente. Não apenas na esfera privada, mas também o poder público se mobilizou, diante de pressões vindas de todos os setores e até mesmo do exterior, porque ficou perigoso para os turistas estrangeiros visitarem o Brasil.

O mosquito sumiu ou a imunidade aumentou?

Cientificamente, é real a possibilidade de que a população tenha desenvolvido resistência aos vírus transmitidos pelo mosquito. Essa resistência coletiva é chamada de “imunidade de rebanho”. A possibilidade foi discutida em estudo publicado pela revista Science, em julho de 2016, que previu que a epidemia de zika acabaria em 2017, na América Latina. Independentemente de medidas de combate ao mosquito Aedes aegypti ou da administração de uma vacina que pudesse ser desenvolvida, o fenômeno da “imunidade de rebanho” aconteceria.

O que é a “imunidade de rebanho”

A “imunidade de rebanho” é um fenômeno que acontece de forma cíclica e já é conhecido na medicina. Ele significa que, depois que muitos indivíduos são infectados por algum vírus e sobrevivem à doença, eles desenvolvem defesas naturais contra o vírus que os vitimou. Depois que isso acontece em escala na população, os que ainda não foram infectados e são vulneráveis formam uma minoria, o que faz com que a transmissão pelo mosquito se torne cada vez mais difícil de acontecer. Isto é, fica cada vez menor a possibilidade de que o mosquito pique alguém que não seja imune e o processo de propagação se torna mais lento ou deixa de existir. É possível, portanto, que o mosquito esteja em ação, mas atingindo pessoas imunes, que não desenvolvem mais a doença.

Portanto, os já resistentes servem de proteção para os demais. De acordo com Denise Valle, esse ciclo entre surtos e imunidade contribui para a redução das três doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Possivelmente, a Zika está em declínio, pelo menos no Brasil, graças a esse mecanismo, que foi previsto pelos pesquisadores em 2016.

Quando a imunidade é definitiva?

Quanto à chikungunya e a Zika, a doença torna a pessoa imune para o resto da vida. Já com a dengue isso não acontece, porque há quatro espécies de vírus causadores da doença. Quando se adoece com uma dessas espécies, a imunidade é para toda a vida somente no tipo do contágio, nas outras três há uma resistência temporária. Portanto, é possível que uma mesma pessoa tenha dengue quatro vezes durante a vida.

A imunidade é temporária porque um grande número de anticorpos está presente no corpo por cerca de um ano, no mínimo, depois da dengue. A imunidade temporária também contribui para a “imunidade de rebanho”, porque ajuda a reduzir a quantidade de pessoas suscetíveis ao vírus. No entanto, a redução cíclica de casos não significa que o perigo de novas epidemias tenha sido definitivamente afastado.

Segundo o estudo publicado na Science, um novo surto de Zika acontecerá num prazo de dez anos. Isto porque, as pessoas que nascerem nesse período não terão resistência contra o vírus, por não terem sido expostas ao contágio. Algumas pessoas que se tornaram imunes morrerão e acontecerá uma redução da “imunidade de rebanho”, com um maior número de vulneráveis à Zika, aumentando a chance para uma nova epidemia.

Em algumas regiões do Brasil, os casos de chikungunya diminuíram, mas no Norte, Sudeste e Centro-Oeste houve alta de casos. Onde a doença chegou antes, já há uma parcela da população que é imune. Nas regiões onde chegou depois, as populações são mais vulneráveis. A chikungunya é grave, resultando em fraqueza muscular e incapacitação por até um ou dois anos. Por isso, a Dra. Valle alerta, não é possível se esperar até que haja imunidade coletiva, a estratégia continua sendo a de sempre: Combater o mosquito!

Regina Di Ciommo

Mestre e Doutora em Sociologia pela UNESP, pesquisadora na área de Ecologia Humana e Antropologia, Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, foi professora em cursos superiores de Sociologia e Direito, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

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