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Pobreza alimentar e obesidade estão ligadas, saiba porquê

Diversos trabalhos estão sendo publicados mostrando que a obesidade é mais frequente entre os mais pobres, no Brasil e em outros países

Culturalmente temos a atitude de associarmos pobreza à magreza, tendo por referência os quadros de pessoas desnutridas e esqueléticas, imaginando que as privações levam as pessoas à perda forçada de peso. No entanto, nem sempre é assim, até pelo contrário. A pobreza pode levar a escolhas de alimentos baratos, calóricos e pobres em nutrientes, o que leva ao acúmulo de gordura e a um estado nutricional deficiente. Vemos muitas pessoas obesas entre a população de baixa renda e o resultado é a maior incidência de problemas relacionados à obesidade, como problemas cardíacos e diabetes afetando a população pobre.

Pobreza alimentar e obesidade estão ligadas, saiba porquê

Imagem: Getty

Pobreza alimentar é uma questão de saúde pública

Artigo recente publicado neste mês de junho, no jornal inglês de Guardian discutiu o fato de que a obesidade é uma questão de classe. Na idade de cinco anos, as crianças dos lares de baixa renda têm o dobro da probabilidade de serem obesas do que as crianças mais ricas. Aos 11 anos, a probabilidade de serem obesas passa a ser três vezes maior, conforme foi constatado por um estudo realizado. No bairro rico de Richmond upon Thames, no sudoeste de Londres, 11% dos garotos de 11 anos são obesos, em comparação com 28% nos bairros mais pobres de Barking e Dagenham, no lado leste da capital.

A desigualdade cresceu muito na última década. Podemos dizer que a obesidade transformou-se em uma doença da pobreza, tanto quanto o cólera era no século 19. Ela não afeta apenas os pobres, as estatísticas estão crescendo para além dessa categoria, mas aqueles que vivem em áreas carentes têm muito menos chance de escapar disso, e da lista de doenças que acompanham a obesidade, como câncer e diabetes.

Pesquisadores que estão estudando o componente social do sobrepeso, entre diferentes países, estão encontrando um padrão emergente. A obesidade é uma forma de má nutrição, eles explicam, e quanto maior a desigualdade estrutural dentro de uma sociedade, mais as pessoas que vivem submetidas a limitações financeiras e sociais experimentam a falta de oportunidades para uma vida ativa e saudável.

O diretor do Fórum Nacional da Obesidade na Inglaterra, Tam Fry, declarou, “A questão é que a obesidade é normalmente encontrada nas classes D e E, onde as pessoas não conseguem adquirir frutas e vegetais, mesmo que saibam o que significa uma boa dieta e então eles alimentam suas famílias com alimentos altamente processados, que são menos nutritivos”.

A forma como hoje preparamos nosso pão, um alimento básico por séculos, demonstra os problemas de uma sociedade em que a alimentação saudável vem com um preço que é absolutamente alto para muitos. O pão branco é barato e você pode colocar alguma coisa bem barata no meio, que pode ser algo processado e nada saudável, e chamar isso de sanduíche ou uma refeição.

O padeiro faz o pão do jeito em que ele vem sendo feito por gerações, usando farinha de trigo, fermento, água e um pouco de sal. O pão assim é chamado de suporte da vida, porque ele contém muitos nutrientes vitais: gorduras essenciais, fibras, proteína, mais de 20 vitaminas e minerais e carboidratos. Se o pão é um alimento básico e se o alimento básico da dieta for saudável, fica muito mais fácil assegurar que a dieta como um todo é saudável. Mas existe uma enorme diferença entre um pão integral bem feito e um pão branco em fatias industrializado.

Quando o trigo integral é moído até se transformar na farinha branca, as vitaminas e minerais são reduzidos a menos da metade. O germe, rico em óleos essenciais, que contém a maior concentração de nutrientes, é vendido para a alimentação animal. Depois que surgiu a preocupação com o excessivo processamento que pudesse estar deixando as pessoas mal nutridas, eventualmente os governos exigiram que os fabricantes de farinha de trigo adicionassem a ele um pouco de vitaminas e minerais, mas apesar disso não são restaurados os níveis encontrados na farinha integral.

A professora Elizabeth Dowler, da Warwick University, tem pesquisado a pobreza alimentar e afirma que melhores salários são parte da solução para as políticas públicas contra a obesidade. Segundo ela, precisamos ter menos pães baratos nos supermercados. O pão barato é sem gosto, flácido, sem conteúdo nutritivo e, por causa da maneira como é metabolizado, contribui para o ganho de peso.

No Brasil, se compararmos o preço do pão branco Frances e do pão integral, poderemos notar que esse é um fator que pesa nas escolhas alimentares das famílias mais pobres. Vejamos:

Pão Frances – custa de R$ 10,90 a R$ 14,90 o quilo.

Pão integral – R$ 8,75 a 9,69 o pacote de 400 grs a 500 grs

Portanto, o pão integral custa o dobro ou mais do que o pão Frances comum

Portanto, a obesidade mostra que algo está errado, não somente com os hábitos alimentares, mas com todo o sistema econômico. Quando se fala, por exemplo, do valor do salário mínimo no país, uma discussão que deveria pautar as decisões públicas é o poder de compra desse salário. Quando se congela o seu valor, sem os devidos reajustes, num cenário de crise, o resultado será refletido diretamente nas escolhas alimentares e, como consequência, na saúde da população.

Elizabeth Dowler afirma que, nas suas pesquisas, quando se conversa com os pais da classe de baixa renda sobre como eles usam os seus baixos rendimentos, se constata que os alimentos estão no final de uma longa lista. Então, se não se analisa o contexto social no qual as pessoas vivem, nunca se poderá combater a obesidade.

Obesidade relacionada à pobreza – situação no Brasil

Um estudo realizado por pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde, da Fiocruz, Vanessa Ferreira e Rosana Magalhães, com mulheres obesas na comunidade da Rocinha, do Rio de Janeiro, constatou fatores que levam ao aparente paradoxo de encontrarmos pessoas obesas em situação de extrema pobreza.

O estudo destacou que, entre as entrevistadas obesas, um dos fatores que explicam essa condição é a falta de recursos para comprar alimentos saudáveis. Além disso, estão os fatores relacionados a baixa escolaridade, falta de áreas de lazer, dificuldades com a mobilidade e más condições de moradia.

A favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, tem 70 mil moradores, segundo o Censo de 2010. As mulheres na comunidade enfrentam uma verdadeira luta contra o excesso de peso. A obesidade vem aumentando nas comunidades carentes, principalmente entre as mulheres. Além da baixa renda, existem outras causas que precisam ser analisadas.

No dia a dia das mulheres, estão os afazeres domésticos e o cuidado com os filhos, a alimentação da família, além do trabalho formal. Segundo a pesquisa, os grupos de baixa renda não tem acesso a espaço para exercícios e não tem como comprar alimentos mais saudáveis e nutritivos. As estratégias para sobreviver se caracterizam pela escolha de alimentos baratos, muito calóricos, como gorduras e açúcar.

A obesidade é, portanto uma doença que tem não somente aspectos físicos, mas também sociais. A pesquisa do ENSP destacou que, entre os moradores da favela, as mulheres que moram nas partes mais altas do morro são as que enfrentam maiores dificuldades para acesso a serviços de saúde e para sair do sedentarismo, devido às dificuldades de locomoção. À medida, também, que as mulheres foram encontrando empregos no mercado de trabalho, ficaram com menos tempo para cozinhar e apelam frequentemente para alimentos processados e lanches das cadeias “fast food”, que poupam tempo, mas são mais calóricos. Segundo elas declararam, os produtos “light” são bem mais caros.

Regina Di Ciommo

Mestre e Doutora em Sociologia pela UNESP, pesquisadora na área de Ecologia Humana e Antropologia, Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, foi professora em cursos superiores de Sociologia e Direito, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

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