A Organização Mundial da Saúde calcula que 14% das pessoas infectadas pelo coronavírus precisarão de internação hospitalar e 5% precisarão de UTIs.
Segundo as estimativas dos especialistas em infectologia, infelizmente os leitos de UTI existentes no Brasil não são suficientes para enfrentar a pandemia de coronavírus, mesmo em um cenário mais otimista. Diferentes grupos de pesquisa chegaram à conclusão que as UTIs estarão lotadas no mês de abril.

Imagem: Getty Images
A maioria dos estados brasileiros não está preparada para atender, no SUS, casos graves de pacientes infectados pelo coronavírus. Esses casos necessitam de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), dotados de equipamentos de respiração para ventilação mecânica. No mundo, demanda média por leitos tem sido de 2,4 por 10 mil pessoas, sendo que o Brasil tem em média de 2,1 leitos por habitante, dos quais apenas 1 na rede pública.
A situação é mais desfavorável nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, que são mais pobres e mais dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS). No Sudeste, o Rio de Janeiro enfrenta também dificuldades quanto ao número de leitos de UTI.
É preciso salientar que menos de 10% dos municípios brasileiros têm leitos de UTI, públicos ou privados, que se encontram em hospitais das grandes cidades. No interior, os pacientes terão de ser encaminhados a hospitais regionais em seus estados.
Embora o SUS esteja de acordo com a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de ter o mínimo de um leito de UTI para cada 10 mil habitantes, em 17 dos 27 estados a média é inferior à recomendada, segundo dados do Conselho Federal de Medicina, tomando por base em números do Ministério da Saúde e do IBGE.

Imagem: Getty Images
A demanda mundial, que chegou a 2,4 leitos de UTI por 10 mil habitantes, segundo a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), é mais que o dobro da média disponível no SUS.
A epidemia da Covid19 vai exercer muita pressão sobre hospitais brasileiros, mesmo se o contágio da população evoluir de forma lenta nos próximos meses, de acordo com projeções de pesquisadores que estudam o impacto da doença no sistema de saúde pública. Os estudos em andamento ajudam a identificar áreas despreparadas para lidar com a disseminação do vírus.
Cálculos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) indicam que grande parte dos municípios brasileiros terá dificuldades se a contaminação aumentar muito rapidamente. Por exemplo, em um cenário em que 0,1% da população contraísse o vírus em um mês, faltariam leitos em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) para o atendimento, pelo SUS, dos casos mais graves em 44% das regiões do país. Essa taxa de infecção de 0,1% será alcançada no Brasil quando 210 mil pessoas estiverem infectadas pelo novo coronavírus.
Até o dia 4 de abril, o Brasil havia registrado ao menos 431 mortes pelo novo coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde. Foram 72 novas mortes confirmadas em 24 horas. O país somava 10.278 casos confirmados da doença. O número representa um salto de 13,5% em relação ao dia anterior, quando foram computados 9.056 casos. Apenas três estados ainda não haviam registrado mortes em decorrência do novo coronavírus: Acre, Mato Grosso e Tocantins. Entretanto, muitos casos não têm sido notificados por falta de testes.

Imagem: Getty Images
Com base na experiência de outros países, a OMS (Organização Mundial da Saúde) calcula que 14% das pessoas infectadas pelo coronavírus precisam de internação hospitalar e que 5% precisarão de equipamentos das UTIs.
O Brasil tem cerca de 33 mil leitos de UTI disponíveis para pacientes adultos no SUS e nos hospitais particulares, além dos leitos para recém-nascidos e crianças. No entanto, a sua distribuição é desigual, com oferta menor em regiões mais pobres.
Os municípios sem condições de atender os pacientes mais graves com o avanço da Covid-19 poderão recorrer aos hospitais de cidades maiores de suas regiões, mas isso dependerá da intensidade da demanda de pacientes locais, dizem os especialistas.
Um grupo de especialistas, liderado pela professora Marcia Castro, da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos EUA, sugeriu que haverá problemas em poucas semanas no Brasil, caso a Covid19 tenha o mesmo ritmo de evolução observado na China, epicentro da pandemia.
Segundo as previsões, na cidade de São Paulo, faltariam leitos comuns e leitos de UTI a partir da segunda quinzena de abril. A Prefeitura de São Paulo anunciou essa mesma previsão nesta quinta. A se manter as tendências já observadas, os recursos dos hospitais se esgotariam em poucos dias.
A oferta de um leito de UTI para cada 10 mil habitantes é o mínimo necessário para atender a população, mas, segundo o Ministério da Saúde, essa referência é adequada para um ano típico, não sendo suficiente para uma situação excepcional como a da pandemia do coronavírus.
Segundo o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, a oferta de leitos de UTI nos hospitais do SUS é inferior ao mínimo necessário em 72% das regiões, onde vive 56% da população brasileira e 61% das pessoas sem cobertura de planos de saúde privados.

Imagem: Getty Images
Os estudos feitos por grupos da UFMG e de Harvard indicaram que as dificuldades somente serão menores se os leitos de UTI e outros recursos disponíveis existentes nos hospitais privados também passarem a ser usados por doentes sem plano de saúde.
Entretanto, mesmo essa medida tem alcance limitado, porque os cálculos mostraram que se os governos assumissem o controle dos hospitais privados para enfrentar a epidemia, o esgotamento da oferta de leitos ocorreria em uma semana.
Medidas de gestão nos hospitais e investimentos para ampliar a oferta de leitos seriam eficazes para evitar o colapso, segundo as estimativas de outro grupo de pesquisadores, orientado pelo professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Se a contaminação evoluir no ritmo observado em Wuhan, cidade chinesa onde foram registrados os primeiros casos e se a taxa de infecção da população seguir a tendência de 0,5%, em 79 dias vão faltar 30 mil leitos de UTI no país para atender os casos mais graves.
Mesmo que as cirurgias eletivas sejam suspensas, isso pode liberar 30% dos leitos nas UTIs, o que reduz a carência para 16,7 mil leitos. Com investimentos para ampliar em 10% a capacidade dos hospitais, a carência seria reduzida para 12,7 mil.
Deixe um comentário