Em sua face mais dramática, as queimadas da Amazônia, além de destruir o habitat de milhares de espécies animais e vegetais, afetam a saúde, principalmente das crianças.
As queimadas nos estados a Amazônia estão afetando a saúde da população de maneiras diferentes.
No estado de Rondônia, um dos mais afetados, as queimadas este ano tiveram um aumento de 193%.
A fumaça, que tomou conta da capital, Porto Velho, causou um aumento de 70% nos atendimentos hospitalares de crianças com problemas respiratórios.
O principal hospital infantil, Cosme e Damião, de Porto Velho ficou lotado.
Essa unidade de saúde é a principal responsável pelo atendimento a crianças em todo o estado.
A Secretaria de Saúde informou que o aumento dos casos de crises respiratórias se deveu às queimadas.
A fumaça mudou o ambiente da cidade.
Uma espessa nuvem de fumaça cinza se espalhou, mudando não somente a paisagem, mas afetando a saúde, principalmente das crianças, segundo informou a Secretaria Estadual de Saúde.
Segundo as informações do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o aumento das queimadas no Brasil, nos primeiros oito meses de 2019 foi de 84%, em relação ao mesmo período de 2018.
As queimadas deste ano também atingiram a rede elétrica e provocaram um grande aumento nas interrupções de energia, no estado do Pará.
No estado, o aumento no número de queimadas foi de 207%, o que causou problemas na infraestrutura de todo o estado.
A concessionária de energia elétrica relatou que em 2018 foram 93 as interrupções no abastecimento de energia, enquanto que em 2019, até agosto, as interrupções foram 103, um aumento de 10%.
Interrupções de energia elétrica tem efeitos negativos na saúde, com o desligamento de sistemas de refrigeração de alimentos e remédios, das redes de comunicação, além de interrupção no funcionamento de bombas de água que abastecem edifícios, escolas e residências.
Uma das cidades mais afetadas foi Novo Progresso, município que fica na divisa com o estado de Mato Grosso.
Ali, segundo o INPE, foram registrados 1521 focos de incêndio neste ano.
As queimadas danificaram a rede de transmissão de energia elétrica da cidade, deixando a população mais de cinco horas sem energia.
Imagem: Pixabay
A prática das queimadas
Ao contrário do que muita gente acredita, os incêndios na região amazônica e no cerrado do Brasil não acontecem de maneira natural.
Embora existam leis que tentaram coibir essa prática, a forma arcaica de limpar o terreno para o plantio tem sido o fogo, uma forma barata de eliminação da floresta, que tem impacto negativo na biodiversidade e leva a incêndios incontroláveis na mata.
Desde o século 19, o costume vem sendo registrado, principalmente entre os fazendeiros do Vale do Paraíba, que desejavam abrir novos espaços para as plantações de café.
Foi assim que o Barão de Pati descreveu a prática dos fazendeiros: “Era a sangue frio, como se praticassem um ato heroico”.
Esse costume de abrir espaços na floresta virgem é o responsável principal pelo virtual desaparecimento da Mata Atlântica, que antes cobria todo o litoral brasileiro e atualmente foi reduzida a 7% de sua extensão original.
Desde o início da prática da queimada, para cada hectare que se pretendia incorporar ao plantio, se perdia cinco a dez hectares para o fogo descontrolado, conforme relatos contidos no livro “Brasil, amor à primeira vista! – Viagem Ambiental no Brasil do Século 16 ao 21”, da escritora ambientalista e advogada Sandra Marcondes (2005).
A autora explica que as florestas do Rio de Janeiro, como a da Tijuca e das Paineiras, que faziam parte da Mata Atlântica, foram sendo ocupadas por cultivos de café.
A devastação florestal teve consequências sérias, como a redução e degradação das fontes de água potável que eram responsáveis pelo abastecimento da cidade do Rio de Janeiro.
Foi necessário que, em 1861, dom Pedro 2º ordenasse o reflorestamento das margens dos rios.
A prática da queimada é considerada um método totalmente ultrapassado, com grandes impactos negativos na biodiversidade local.
Ela acaba com habitats naturais e aniquila espécimes de fauna e flora existentes.
Em agosto de 2019, a prática da queimada se tornou um tema central de discussão nacional e internacional, devido à dimensão catastrófica que os incêndios tomaram, sendo vistos por satélites, graças à tecnologia que permite a localização precisa dos focos de incêndio.
O fogo, que eclodiu de maneira planejada pelos produtores rurais, a partir da metade do mês de agosto, se espalhou ao longo da BR 163, pela região amazônica e pelo cerrado, atingindo diversos municípios da região Norte e Centro-Oeste.
Sua fumaça atingiu cidades das regiões Sul e Sudeste.
Imagem: Pixabay
Dia do fogo
Nesta época de seca na maioria das regiões do Brasil, a mata se torna muito vulnerável a incêndios.
Mas nos casos desses que estão acontecendo, o fogo tem origem, de forma específica, na ação predatória do homem.
Os interessados em expandir suas pastagens ou plantações de soja são os diretamente implicados nesse desastre.
No sudoeste do Pará, foi organizado um “dia do fogo”, entre fazendeiros e seus empregados, para iniciar queimadas simultâneas à margem da BR 163, com a intenção de manifestar apoio ao governo Bolsonaro, com a mensagem de que querem derrubar a mata com queimadas.
Foi escolhido o dia 10 de agosto para esses incendiar a maior floresta tropical do mundo, no que ficará sendo conhecido como o momento mais trágico na história recente da Amazônia.
O presidente Jair Bolsonaro desmentiu os fatos, trocando o responsável pelo INPE, o físico Ricardo Galvão por um militar da Força Aérea.
O sistema de monitoramento do INPE é referência mundial e os dados informam que, desde janeiro, foram registrados 71.497 focos de incêndio, um número 82% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 39.194 focos.
O responsável pelo programa de monitoramento de queimadas do órgão informou que as queimadas são de origem humana, sendo alastradas depois pela condição da seca.
A prática da queimada é considerada um método ultrapassado, porém rápido e barato, que tem um impacto negativo em toda uma área.
A queimada dizima espécimes da flora e da fauna, mata microrganismos que possibilitam o desenvolvimento da vegetação, empobrecendo o solo, porque o fogo elimina nutrientes, como nitrogênio, potássio e fósforo.
A liberação de dióxido de carbono na atmosfera é um dos fatores mais importantes para o aquecimento global e atualmente o Brasil é o sétimo país que mais contribui para o nível de emissões de carbono no mundo, prejudicando, portanto, não só a saúde da população brasileira, como também da comunidade internacional.
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