O Programa Nacional de Imunização (PNI) é referência mundial por ofertar para toda a população, de forma gratuita, diversas vacinas importantes. No entanto, a taxa de cobertura, que o distinguia, vem caindo nos últimos três anos.
A defasagem que vem se mostrando recentemente, entre a meta proposta de vacinação e a taxa de cobertura alcançada está preocupando especialistas e profissionais da área de saúde.
O paradoxo é que o sucesso da vacinação de crianças que hoje são jovens, que afastou a ameaça de doenças graves como sarampo e poliomielite, causou um desinteresse dos atuais jovens pais, que passaram a acreditar que as doenças não mais apresentam risco.

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Uma geração que foi beneficiada pela vacinação, não conviveu com pacientes da doença e talvez não tenham a percepção da importância da imunização, como nas gerações anteriores.
É importante que haja um trabalho de divulgação e conscientização que mostre que as doenças, apesar de serem hoje raras, ainda existem e que as vacinas são essenciais para a saúde das crianças e jovens.
É importante também apontar que esse não é o único fator que explica a diminuição da cobertura da vacinação no Brasil, há outras causas sociais e econômicas.
Especialistas apontam que, em geral, não há o devido acompanhamento da população por parte das políticas públicas de saúde, que somente se mobilizam em situações agudas de saúde.
Nem sempre os serviços são organizados de modo a privilegiar a prevenção e a continuidade do cuidado.

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De acordo com o Conass – Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o cuidado com a população deve significar acompanhamento desde o nascimento, por parte das Unidades Básicas de Saúde, de forma que as ações sejam organizadas e tenham continuidade, sem esperar pela demanda espontânea das pessoas, mas buscar as pessoas da comunidade, por parte dos Agentes Comunitários de Saúde e manter um sistema de informação atualizado das ações.
Dessa forma a imunização será mais eficiente e eficaz no Brasil.

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Sete vacinas estão abaixo da meta indicada
O Brasil atualmente tem sete vacinas infantis cuja cobertura está abaixo da meta estabelecida.
De acordo com levantamento feito pela Folha, em 2018, dentre oito vacinas indicadas para bebês, apenas a BCG, que imuniza contra a tuberculose, está com a cobertura de acordo com a meta.
Destacando-se o motivo: é que ela costuma ser aplicada ainda na maternidade.
As outras vacinas atingiram coberturas entre 80% e 91,5%, sendo que a meta é 95%.
De acordo com informações do levantamento, até junho deste ano, os índices de imunização continuam abaixo da meta ideal estabelecida pelo Ministério da Saúde, para garantir a proteção contra doenças.
Mesmo com os alertas realizados sobre a queda na cobertura das vacinas, ainda não houve a reação esperada.
Existem questões que precisam ser investigadas sobre as razões dessa dificuldade em cumprir as metas de vacinação, nos últimos três anos.
O Ministério da Saúde se defende dizendo que estão sendo realizadas investigações em cinco capitais.
Mas algumas hipóteses podem ser levantadas, uma delas é que as mães estão trabalhando cada vez mais, a presença feminina tem aumentado no mercado de trabalho, em ritmo maior do que os homens.
O trabalho das mães fora de casa impede que frequentem os postos de saúde no horário comercial, já que eles fecham à noite e nos finais de semana.
A mãe que trabalha dificilmente pode alegar que vai faltar no trabalho porque precisa levar o filho para ser vacinado.
Esse é um ponto importantíssimo que deve ser considerado.
Segundo Isabella Ballalai, da Sociedade Brasileira de Imunizações, muitos pais não consideram urgente levar os filhos para serem vacinados.
Quando perguntados pela razão de não terem vacinado, muitos respondem que foi porque deixaram para depois ou porque esqueceram e não porque não consideram as vacinas importantes.
A demora em levar as crianças para a vacinação é uma das razões da meta de 95% não ter sido cumprida.
A consequência da demora traz um risco para a proteção coletiva.
Entretanto, os pais podem levar as crianças com as vacinas atrasadas ao posto e atualizar a vacinação, afirma a Dra. Ballalai, porque os médicos vão até comemorar.
Mas quando o caso é de recusa, uma denúncia pode levar os pais ao Conselho Tutelar, porque isso configura crime.
Dados de 2018 inéditos foram publicados pela Folha, mostrando quais as doenças que estão com cobertura de vacinação abaixo da meta, 95% é a meta de cobertura adotada pelo PNI – Programa Nacional de Imunizações, conforme abaixo:
– 2011 – 105,7% de cobertura
– 2018 – 85,7% – o menor índice registrado até agora. O esquema de vacinação é o de duas doses, aos 3 e 5 meses, com reforço aos 12 meses.
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Hepatite A
– 2014 – 60,1%
– 2018 – 80,9% – Abaixo da meta. O esquema de vacinação é o de dose única aos 15 meses
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Pneumonia
2011 – 81,7%
2018 – 91,5% – Abaixo da meta. O esquema de vacinação é aos 2 e aos 4 meses, com reforço aos 12 meses.

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Difteria, tétano, coqueluche e outras
1997 – 78,5%
2018 – 85,3% – cobertura insuficiente, abaixo da meta. O esquema de vacinação são 3 doses, aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses e 4 anos.
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Sarampo, caxumba e rubéola
2000 – 77,5%
2018 – 90,5% – Abaixo da meta. Vacinação é com 1 dose aos 12 meses, outra aos 15 meses, somada à tetraviral e à de varicela.
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Rotavirus
2007 – 79,8%
2018 – 87,9% – Abaixo do ideal. Esquema de vacinação com duas doses, aos dois meses e outra aos 4 meses.
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Poliomielite
1997 – 89,2%
2018 – 86,3% – Houve queda e está abaixo da meta. A vacinação é com 3 doses, aplicadas aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses e 4 anos.
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Tuberculose
– 1997 – 117,1%
– 2018 – 95,6% – A única vacina que está com cobertura da meta. O esquema de vacinação é a dose única ao nascer e ela é aplicada na maternidade.
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