Até a primeira semana de maio, o Brasil registrou um total de 98 mortos entre profissionais de Enfermagem, vítimas do Covid-19. Segundo informado por seus terapeutas, grande parte está psicologicamente afetada.
No dia 7 de maio, o número de profissionais de enfermagem mortos pela Covid-19 no Brasil era de 98 vítimas, segundo dados do Cofen (Conselho Federal de Enfermagem). Esse número é maior do que nos Estados Unidos, país mais atingido no mundo pela pandemia do novo coronavírus, onde se contabiliza 91 mortes, de acordo com levantamento publicado pelo National Nurses United – NNU.

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No mundo todo já morreram mais de 260 profissionais de enfermagem, segundo o mesmo órgão e 90 mil estão infectados com a doença. No Brasil, é preciso destacar que, dos 98 profissionais de enfermagem mortos pela Covid-19, 25 são enfermeiros, 56 técnicos e 17 auxiliares de enfermagem, sendo que 67% do total são mulheres.
O Cofen mostra que o número total de confirmados com a doença chega a quase 3 mil profissionais. A entidade avisa que a situação é grave e exige medidas imediatas para evitar o que os profissionais adoeçam. Isso pode ser catastrófico não apenas para os diretamente afetados, mas para o próprio sistema de Saúde.
O segundo país com mais casos de Covid-19 no mundo é a Espanha, onde 50 profissionais de saúde morreram o dia 7 de maio, de acordo com a OCE (Organización Colegial de Enfermería), entidade que representa os trabalhadores de enfermagem no país.
O órgão pede que seja demonstrado às equipes de enfermagem o mesmo respeito, solidariedade e sensibilidade que os que são mostrados para os médicos. Os cidadãos devem encorajar, parabenizar e agradecer pelo trabalho de enfermeiros e enfermeiras, que colocam as próprias vidas para salvar os doentes.
Mais de 130 conselhos de enfermagem de diferentes países são ligados ao ICN – International Council of Nurses, que confirmou que existe uma grande falta de transparência por parte dos governos sobre dados e informações da situação dos enfermeiros e enfermeiras, o que coloca em perigo esses profissionais e os pacientes.

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Faltam dados oficiais sobre infecções e mortes nas equipes de enfermagem. Esses profissionais de saúde foram expostos a um risco maior devido à falta de EPI e à falta de preparação para lidar com a pandemia. As taxas de infecção e, tragicamente, as mortes aumentam diariamente.
Segundo o ICN, os governos falham em coletar essas informações e não temos os dados que poderiam melhorar as medidas de controle e prevenção que possam salvar a vida de outros profissionais de saúde.
Novo coronavírus está afetando a saúde mental dos profissionais de saúde
Os terapeutas dos profissionais de saúde revelam que está havendo pressão extrema, ansiedade, sobrecarga de trabalho e medo devido à exposição à Covid-19. A realidade diária de muitos profissionais da saúde nas salas de emergência e UTIs de hospitais lidando com o novo coronavírus está produzindo efeitos negativos que começam a ser sentidos na saúde mental, a um grau que pode levar à incapacitação temporária ou permanente para trabalho em situações de emergência.
Oferecendo trabalho voluntário, centenas de terapeutas e psiquiatras estão oferecendo diagnóstico e tratamento para profissionais da Saúde, que atendem pacientes da Covid-19, em sessões virtuais e gratuitas. Entre os pacientes estão médicos, enfermeiros, enfermeiras, fisioterapeutas e nutricionistas hospitalares.
Isso está sendo feito através do programa Telepan Saúde, projeto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria (ABNP). Já aconteceram mais de 250 consultas online, em todo o Brasil.

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O psiquiatra Helian Nunes, professor da UFMG, vice-presidente da ABNP e um dos idealizadores da ideia de teleatendimento a profissionais de saúde, declarou à BBC News Brasil que as equipes estão observando desde quadros leves de medo, ansiedade, insônia crônica e apreensão, em sua maioria, mas também quadros moderados e graves de extrema angústia e incapacitação para o trabalho.
Alguns profissionais estão relatando a violência da sociedade contra eles, como por exemplo, alguns estão sendo expulsos de ônibus e ouvindo que eles não deveriam estar ali, porque vão infectar as pessoas.
Segundo ele, está sendo criado um estigma contra os profissionais da saúde, o que vai exigir um esforço muito grande para que a tendência seja inibida. É preciso que os profissionais da saúde sejam ajudados. No entanto, eles estão sendo extremamente cobrados.
A partir dos teleatendimentos feitos até agora, foi possível perceber que muitos dos profissionais de saúde do Brasil estão abalados pela sobrecarga física e mental e poderão apresentar sintomas de estresse pós-traumático.
Depois da pandemia, é muito provável que precisem de acompanhamento psiquiátrico. Existe a possibilidade de uma parcela ficar incapacitada para seu trabalho.
Alguns vão precisar se aposentar ou passar a trabalhar em outras áreas, porque ficaram incapazes de atender em uma CTI ou em uma sala de urgência.
O Dr. Helian Nunes explica que se trata de reconhecer que o indivíduo tem um limite. Para cuidar de um ser humano é preciso que outro ser humano esteja bem. Os profissionais de saúde estão sendo cobrados ao extremo, do ponto de vista físico e emocional, tendo que assumir situações muito delicadas, tomar decisões clínicas e ao mesmo tempo enfrentar a constante exposição ao vírus.
Isso não é simples e talvez boa parte dos profissionais não tenha um treinamento tão específico para uma situação tão nova.
Médicos e enfermeiros passam a ser pacientes
Além do atendimento aos doentes com covid-19 ser complexo, esses profissionais estão tendo que lidar, em muitos hospitais, com a falta de equipamentos, com a poucos ou nenhum momento de descanso e a possibilidade de se tornarem pacientes, em vez de cuidadores.
Um exemplo que está assustando os profissionais de saúde e que tem sido citado nos teleatendimentos é o número enfermeiras e enfermeiros que já morreram do Covid-19. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), até 22 de abril, esse número era de 32.
Além disso, pelo menos 4,6 mil profissionais de enfermagem foram afastados por suspeita de Covid-19", diz o Cofen, em nota de 27 de abril, sendo que o órgão já recebeu mais de 4,5 mil denúncias de rabalhadores com queixas de falta de equipamentos de proteção individual.
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